
DO BLOG DA MINHA AMIGA...ANA MARIA TOMÉ:
Um dia destes recebi um telefonema de um amigo meu muito querido, mas com uma visão muito machista da vida.
Falou um bom tempo acerca do que achava que deviam ser os relacionamentos entre casais. O papel do homem como tendo de revelar força e autoritarismo e da mulher como submissa aos seus caprichos. Justificando a sua postura, para mim irracional, estendeu-se grande parte do tempo, em depreciações sem sentido, tanto de homens com um comportamento diferente do dele, como quanto das mulheres em geral.
Por fim, vendo-me calada, perguntou a minha opinião.
- E você o que acha Ana?
Respondi:
- Acho graça!
Disse ele:
- Só?
- Só.
Respondi.
Naquele dia era só o que me dava vontade de falar, mas agora, meu amigo, respondo tudo o que penso sobre isso, isto é, dou a opinião que tenho formada a respeito da diferença entre machos e machões. Desde já aviso que ela só tem mesmo este valor, o valor de uma opinião pessoal.
Há um ditado popular que diz mais ou menos assim: diz do que é que te gabas e eu te direi o que te falta.
O que falta aos machões?
Esta é a pergunta que me faço de maneira divertida, todas as vezes em que me deparo com um. E eu digo divertida, porque realmente acho graça no comportamento contraditório deles. Muitas vezes falam excessivamente alto, cheios de gesticulações e sempre com palavras de baixas expressões e gabam-se muito. Querem, nitidamente, comprovar o sexo de que são portadores, no entanto, ao primeiro sinal de perigo iminente são capazes de correr como menininhas assustadas.
Muitas vezes, na rua, comportam-se como valentões ou heróis (de quê?) e em casa são completamente dependentes das mulheres para tudo.
A postura de auto-suficiência deixa evidente que pretendem esconder aquilo que não são. Mascaram atributos que não possuem por excesso de falar no assunto.
Falta a eles muita coisa. Continuam estacionados na adolescência e, como ainda não sabem exatamente o que querem por lhes faltar recursos de formação psíquica completa, agem de acordo com padrões preestabelecidos, em que ser machão é falar de futebol, carros e especialmente mulheres, recurso com que acham que garantem a pseudo-virilidade e se afirmam no mundo masculino.
São inseguros natos e onde mais se gabam é em que mais lhes falta. Por isso, o homem que diz que é bom de cama reiteradamente, na verdade sinaliza que tem problemas de sexualidade e assim por diante, uma vez que homens seguros, machos, sabem o que são e isso basta.
O macho atrai, o machão repugna.
Macho que é macho não diz que vai fazer e acontecer, ele faz e acontece.
O machão quer ser o que alega ser, o macho é sem se gabar.
O machão malha o corpo e transforma a massa encefálica em músculos.
O macho cuida da aparência física, mas malha a alma através de um comportamento saudável baseado numa postura de segurança pessoal.
O machão fala demais, o macho pensa muito para falar.
O machão toma à força, o macho seduz facilmente.
O machão exibe suas conquistas, o macho preserva-as, mesmo que acabem.
O machão é um agressivo, o macho um sensitivo.
O machão exibe a sua sexualidade presumida, a virilidade do macho salta aos olhos.
A virilidade do macho não se baseia no número de conquistas e muito menos numa ou mais aventuras, ela é uma sensação ou emoção que ele vive a dois sem necessidade de alardear sua performance.
Já a sexualidade do machão precisa ser exibida através de comentários jocosos onde fica implícita a necessidade que têm de que os outros saibam quantas caçadas fizeram. Digo caçadas porque não nego que sejam homens, mas o são do tempo das cavernas.
Por isso o machão se prostitui, enquanto o macho ama.
Há uns anos foi noticiada pela imprensa que um dos maiores machões brasileiros muito conhecido do grande público pelo desempenho sexual (ele era ator de filmes pornô) tinha acabado de gravar seu último filme. Como teve uma ex-chacrete como coadjuvante e esta era famosa pelo corpo espetacular que tinha, especialmente o traseiro, foi procurado para uma entrevista. Ao ser perguntado como se sentiu gravando cenas de sexo com ela, ele prontamente respondeu:
-"Gravar cenas de sexo com ela é o mesmo que gravar uma cena de velório!"
Não entendi...
- Mas, e então? O cadáver era ele?
Aprecio o homem que é macho pelo comportamento elegante, pela postura permanente baseada numa autoestima elevada e com limites bem definidos de atuação em sociedade, onde, o respeito e a educação e a discrição, norteiam todas as suas atitudes e se erra não tem escrúpulos em dizer que errou.
São geralmente educados e boa companhia pela maneira de ser tranqüila como lidam com tudo e, por assim serem, normalmente são cercados de belas companheiras, mulheres inteligentes e sensíveis que valorizam não o corpo, mas a conduta, não a estética, mas a personalidade e caráter, não a aventura muitas vezes perigosa, mas a estabilidade emocional de um homem que se formou na convicção de que sabe quem é e do que precisa, especialmente, sabe dar e receber. Muitas vezes nem precisam falar, entende-se deles no olhar que dão ao observar uma cena ou um comentário e, especialmente, são extremamente interessantes as suas conversas, ao contrário dos berros de machões inseguros que a mim, por exemplo, nem vontade de responder dá.
Fúteis e vazios considero os machões ridículos, por isso, sinto muito, mas não me despertam o menor respeito.
Mas ser macho é um predicativo que se estende a todas as pessoas em geral. Uma mulher que luta sozinha para sobreviver e sustentar seus filhos, é macho, uma criança que enfrenta situações conflituosas com valentia, é macho, uma senhora idosa pode revelar muita macheza ao lidar bem com as suas dificuldades. Machos somos todos nós que enfrentamos a vida com verdade, coragem e consciência de quem somos e como estamos. Machos somos todos os que lidamos com os outros tendo o respeito devido, respeitando-lhes a liberdade de ser, de ir e de vir.
Eis meu amigo o que penso a respeito. Pense você o que quiser não dou a mínima, mas se aceita um conselho, comece a reparar em quem de fato quer ouvir tanta baboseira, sem que o íntimo se revolva de pena ou de asco.
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